sábado, 21 de setembro de 2013

O Que vi: Mostra Tati por inteiro














Tati, por muito tempo, ficou no meu olhar periférico de cinema. Não por motivos de qualidade e sim porque pouco ouvia falar sobre ele. O meu primeiro contato com o nome foi em "Meu tio", que em um passado distante alguém havia me recomendado. Mas a figura ainda não fazia a minha cabeça. A segunda aparição foi em um vídeo do omelete em que se discute "Playtime". Me instigou, quero ver. Mas o que, definitivamente, me levou a conhecer o diretor foi a "Mostra Tati por inteiro", promovido pelo SESC que rolou no Cine Vitória em Aracaju.

Jacques Tatischeff poderia ter sucedido o pai no comércio de molduragem ou seguido uma carreira no exército, mas, felizmente, teve uma oportunidade em um determinado baila de gala. No evento, feito para celebrar um certo prêmio, Tati pode apresentar a sua performasse como ator, acrobata e dançarino. Daí foi só um pulo para ele sair do teatro e ir parar no cinema, não só em frente as câmeras como também atrás delas.













Em "Meu tio", filme que considero o melhor entre os que assisti, Tati já encanta pela sua leveza na narrativa, sua critica social e sua capacidade de fazer rir. No filme acompanhamos o Mr. Hulot, homem simples e de pouca ligação com bens materiais, convivendo com uma parte de sua família bem mais rica e de forte ligação afetiva e moral com o consumo. A irmã, o cunhado e o sobrinho moram em um bairro de classe média em uma casa funcional, cheia de tecnologias que "facilitam" as suas vidas. O longa discorre sobre a relação do personagem principal, recorrente em sua filmografia, junto ao pequeno sobrinho.

"Meu tio" trata-se de uma incrível crítica de Tati ao consumismo exagerado da sociedade em que vivia e que existe até os dias de hoje. A todo momento esse tipo de comportamento é ridicularizado pelo diretor, principalmente com suas piadas que pouco necessitam de diálogos para fazer rir. Na casa moderna da sua família, os produtos são personagens mais importantes que os seus habitantes. A irmã de Hulot, incansavelmente, mostra a casa as seus amigos e vizinhos, ligando o chafariz todo momento em que uma visita ameaça entrar na sua casa.

Para destacar o contraste entra vida simples do personagem e do restante da sua família, Tati trabalha com um aspecto visual e sonoro bastante interessante. Nas cenas do bairro rico, os tons cinzas e as formas geométricas tomam conta da imagética, enquanto nos passeios do Mr. Hulot pelas ruas do seu bairro simples, o marrom junto ao colorido transforma aquele lugar em um espaço bem mais confortável e bonito. Outro aspecto que acentua esse discurso é pelo fato da ausência de trilha sonora nas cenas da família em sua mansão, enquanto no outro espaço uma música alegre e bem francesa nos faz querer estar entre aquelas pessoas. Isso reflete o comportamento do sobrinho, que se identifica com o tio e repete o estilo de vida do mesmo, fato que parece ser o principal conflito do filme, já que a narrativa de Tati pouco se assemelha com a clássica.



Parada é uma espécie de circo e teatro numa tela de cinema. Trata-se de várias esquetes de humor em que Tati e vários artista se revesam em um circo gravado. Variando cenas de bastidores com apresentações de dança, pintura, balé, acrobacia e tantas outras manifestações, Parade é um filme feito para televisão. Com a maioria dos seus planos abertos como se o olhar da câmera fosse o do público, o filme tenta nos convencer de que a participação da platéia, que ocorre a todo momento, é improvisada. Claramente não é. O filme parece ser documental, mas só uma criança poderia ser enganada assim, o que faz sentido, já que o filme também parece ser direcionado ao público infantil. 














A ruína financeira de Jaqcques Tati, devido ao seu alto custeamento e demora na produção, Playtime é outro longa da filmografia do diretor com uma forte crítica social. Considerado por muitos como o seu melhor filme, o personagem Mr. Hulot volta nessa estória vagando pelas ruas de uma Paris simétrica, cinza e consumista. Apesar de ser um personagem que aparece a todo momento na narrativa, nesse filme, Tati parece descentralizar Hulot e abrir espaços para outros personagens que acabam se ligando de alguma forma e, às vezes, mais de uma vez durante o longa.

Os personagens mais interessantes nesse filme são os americanos, aqui temos um julgamento de valor de uma futilidade consumista idiota desse povo. Um grupo de mulheres que visitam a capital francesa e um empresário vindo dos Estados Unidos são os personagens mais ridículos que já vi. As mulheres visitam uma Paris que muito se assemelha a uma Nova York para comprar produtos do próprio país, essa situação ridícula parece ser uma aversão do próprio Tati ao concreto, ao cinza e ao consumo. Podemos comprovar essa afirmação quando vemos pedaços interessantes e simbólicos da cidade refletidos em vidros, aqui ele parece querer dizer: olha, isso é simples, é bonito e é legal!

Outra situação interessante é quando Mr. Hulot visita um ex-companheiro de guerra. Aqui recordei de "Meu tio" quando a irmã do personagem mostrava a sua casa aos amigos. Nessa cena a situação se repete. O amigo de Hulot mostra a casa dele ao homem, clara crítica a ostentação que vê como valor humano bens de consumo. O diferencial entre a cena dos dois filmes, e que fez a cena de Playtime ser mais genial, é o fato do apartamento do ex-companheiro ter uma enorme tela de vidro que deixa visível as pessoas que passam pela rua a sua sala de estar. Esse toque da arte e de enquadramento, já que vemos a cena pelo lado de fora através desse vidro, me fez lembrar vários termos: Big brother, facebook, sociedade do espetáculo, The wall...

Enfim, a filmografia de Tati mostra-se interessantíssima e importante para os estudantes e amantes do cinema. Seu trabalho sonoro e visual contribui significativamente a sétima arte. Sua semelhança com Charles Chaplin não o faz menos original, pelo contrário. Temos aqui um diretor, ator, dançarino e político incrível.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Funk é o novo Punk?

Não sei se isso é juventude ou é eterno. Essa inquietação, transformação e medo. Por vezes quero que termine, por outras que nunca acabe. Em boa parte da minha vida poucas coisas entendi, em outras sou leigo e de tantas prefiro o erro e, em consequência, a mudança. Porque ela é sempre bem vinda! Hoje, na minha verdade, a coisa ainda permanece preta, Chico! O Sistema continua falido, mas o prisma sempre bate em alguém e esse alguém se expande. A formação ainda está em pé e contracultura ainda vive por mais que tenha mudado de posição.

O consumo dita o valor de cada individuo (Não é verdade absoluta é senso comum). A propaganda espalha aos quatro ventos os modelos de homem, mulher, criança, adolescente e idoso perfeito. Modelo atrelado a um bem de consumo, consumindo coisas que não precisamos e sacrificamos a vida para tê-las. As pessoas se padronizam e isso é o capital. E os grupos do século XX que bateram de frente com todo o sistema se reconfiguraram. A esquerda se reorganizam junto com os neo anarquistas, punks e hippies. O que permanece é um outro modelo de vida, alternativo ao imposto.

Mas há também quem mudou, não pelos antigos, mas pelo novo. Os velhos deram seus importantes passos, o que precisava era de mais pessoas para alongá-los, mesmo que contrariando os que começaram, mas eles acabaram recuando. Será que o recuo é algo natural do ser humano? O rock acabou?

O que faz aquilo que sempre foi sinônimo de progresso ocupar o lugar que antes lhe reprimia? Se o rock chocava pelas suas roupas, pela sua linguagem corporal, comportamento e pelo som; se lutou pela liberdade sexual, individual e coletiva, o que faz uma geração querer ser elite (intelectual ou financeira), pregar a boa música, julgar pela "moral" e os bons "costumes"? Seria uma inversão dos papéis? Seria conservador ou progressista pedi que esse caráter permaneça intacto? O Funk é o novo punk? Mas a ostentação não é contrário do punk? Deixa pra lá, eu devo tá viajando. Enquanto eu falo besteira, nego vai se matando!



Comentário de autor desconhecido no facebook, nada de citação com credibilidade:
Quando um grupo de pessoas não trata o sexo como tabu, além de ter orgulho do próprio corpo e se divertir com ele, aparece a classe média para chamar esse grupo de vulgar. Para a maior parte da classe média, "vulgar" é tudo aquilo que seja: ou cultura popular e afrobrasileira ou comportamento sexualmente livre, porém exacerbado, sobretudo se relativo à sexualidade feminina... É essa classe média que tenta impor sua visão moralista, historicamente baseada no cristianismo e assimilada mesmo entre os não-cristãos dessa classe, sobre sexo e sobre sexualidade... Não percebem que apenas estão fazendo tudo o que o capitalismo sempre quis: tirar a liberdade das pessoas (sobretudo mulheres) sobre o próprio corpo. Por mim, as adolescentes que se divirtam!