segunda-feira, 6 de abril de 2015

Crítica: Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância)



O protagonista do filme Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), Riggan Thomson (Michael Keaton), parece ser um daqueles atores marcados por uma única produção significativa em termos artísticos ou mercadológicos da sua carreira. Sucesso em décadas passadas interpretando um super-herói, Birdman, Thomson é um ator que tenta voltar ao estrelato com a sua mais nova produção, uma peça de teatro chamada: “What We Talk About When We Talk About Love”.

Dirigido por Alejandro González Iñarritu, de 21 gramas e Amores Brutos, a estória acontece em um teatro na Brodway e suas redondezas durante o final da pré-produção e apresentação do espetáculo. A montagem de Birdman é uma colagem de planos sequências como se fossem um só, parecido com o trabalho de Hitchcock em Festim diabólico, através de cortes disfarçados e diferente do filme francês Arca Russa de 2002, onde realmente não existem cortes. Um elemento estético interessante que o diretor adotou, em vários momentos do filme, é o uso de elipses (espaços de tempos) nas mudanças de sequências que variam entre passagem de movimentos de câmera pelos cômodos do teatro a mudanças sonoras e visuais nos ambientes.

Inãrritu tenta explorar um debate sobre as novas relações tecnológicas, artísticas e de comunicação no seu longa mais recente. Em muitos momentos a gente ouve referências à internet, ao jornalismo, ao mercado cinematográfico e artístico de um modo geral. Porém, ele parece se preocupar muito mais no próprio cinema, o que dá um caráter metalinguístico ao longa. Essa preocupação está principalmente relacionado com o personagem marcante na carreira do seu personagem principal, Birdman, um super-herói. O diretor tenta fazer uma dura crítica aos blockbusters do momento.

Mas, diferente da proposta de um Watchmen, com suas profundas reflexões, Birdman por vezes adota um discurso elitista e superficial. Apesar da ótima metáfora dos superpoderes do artista, que se sente um deus perante o resto dos homens, Iñarritu erra a mão ao fazer suas análises. Os objetos em que o diretor tentar fazer uma observação crítica são totalmente passíveis de um olhar mais apurado, porém ao não apresentar situações narrativas que apresentem justificativas e aprofundem o debate, o filme acaba trazendo uma temática interessante, mas com pouco argumentação.


O sub-título do filme já diz muita coisa: “A Inesperada Virtude da Ignorância”, pode soar de certa forma arrogante com o público assíduo por filmes de super-heróis, por exemplo. Isso dá uma acentuada ainda maior quando o personagem de Edward Norton, Mike, fala para Thomson: “um idiota nasce a cada segundo”, em referencia ao seu público, “as pessoas pagam por qualquer coisa”. Nesse direcionamento o filme ganha uma perspectiva parecida com aqueles pessoas de meia-idade saudosista que adoram falar como as coisas antigamente eram mais interessantes.

“Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” é um filme rico imageticamente e traz contribuições visuais e narrativas interessantes. Os diálogos entre os personagens e as relações entre o protagonista e o restante do elenco são muito divertidas, além de uma construção interessante de todos os seus personagens que tendo muito ou pouco espaço na narrativa deixam claro as suas vontades, desejos e personalidades. Não será o trabalho mais aclamado de Alejandro González Iñarritu, Amores Brutos ainda continua sendo o meu favorito, porém pode ser lembrado como um filme relevante da sua carreira.