Em “Precisamos falar sobre Kevin”, baseado no livro homônimo, na qual a capa é a foto de um garoto com cabeça de bicho (clique aqui para ver a imagem), o que já adianta um pouco sobre a história, vemos o processo de crescimento de Kevin, um garoto com fortes traços de psicopatia. Toda a história é contada pelo ponto de vista de Eva, mãe do garoto, que percebe desde muito cedo o comportamento diferente do filho.
Desde muito pequeno, nós percebemos aspectos desse problema na personalidade do garoto, ele é extremamente inteligente, irritante, cruel, manipulador, sem remorso e mentiroso. Quando muito pequeno costumava se recursar a brincar com a mãe e demora muito tempo para começar a falar. Já um pouco maior, por volta dos 8 anos, ainda usava fralda e costumava fazer bagunça com a comida, tudo isso apenas para irritar a sua mãe. Como no caso em que, depois de um longo dia de trabalho dela, decorando o seu quarto, o garoto, em questão de segundos, destrói todo o trabalho feito. Já jovem mata o bicho de estimação da irmã e depois de ser pego pela mãe se masturbando continua a fazer encarando-a. Isso é tudo muito perturbador. Parece que há um certo tipo de obsessão do garoto pela mãe, ele tenta, ao máximo, fazê-la infeliz. Ao contrario do pai, na qual o seu comportamento era totalmente diferente, levando a um certo tipo de manipulação dele para que o pai não perceba a sua crueldade e por isso ponha ele contra a mãe.
Em determinada cena mostra-se o pai e o filho jogando vídeo game. Mesmo não se aprofundando no assunto, o filme abre uma discussão. Muitas pessoas acreditam que filmes e jogos violentos influenciam na personalidade das crianças e a torna-as cruéis. Eu discordo totalmente. A minha geração, por exemplo, foi criada consumindo produtos considerados violentos e eu não conheço nenhum amigo meu que foi influenciado por isso. É porque, normalmente, a mídia tenta justificar acidentes como o da estreia de Batman nos EUA, culpando os grandes produtos da cultura pop. Esse tipo de coisa não faz sentido, até porque o atirador do cinema com certeza tem algum tipo de problema, podendo ser até um psicopata. Na verdade, pelo contrário, esses tipos de produtos são positivos, pois ajudam as pessoas a diferenciar a realidade da ficção e do que é certo e o que é errado.

Outra parte espetacular do filme é a cena em que Kevin sai do ginásio após a tragédia. Neste momento entra um áudio de pessoas aplaudindo e gritando por ele, como se fosse um show na qual ele é o espetáculo. Áudio esse que não tem nada haver com a reação das pessoas fora do ginásio. Isso resume o sentimento do personagem de chamar atenção e fazer a mãe sofrer novamente, mas também pode soar como uma crítica a sociedade. Como no termo A Sociedade do Espetáculo, na qual uma grande maioria das pessoas constroem uma imagem de vida feliz e de politicamente correta para se mostrar para as outras pessoas, numa tentativa de ser aceito.
Outra coisa bastante interessante é essa incessante procura por culpado que a sociedade busca, na tentativa de justificar algo que é obvio. Nesse caso é óbvio que o garoto tinha problemas e que o desastre é culpa dos problemas do garoto. Mas o que acontece é que a comunidade culpa a Eva a todo momento. Ou foi isso que pareceu, afinal a agressividade das pessoas da comunidade pode ser uma paranoia da personagem que se culpa como ninguém. Afinal o vermelho está ali a todo momento, mostrando a culpa, o sofrimento e a tristeza de Eva. Então fica a dúvida.
Mas, eu me pergunto, o que fazer se a gente descobrir que um amigo ou parente nosso é um psicopata? Afinal, segundo estimativas, uma a cada trinta pessoas são psicopatas. Lembrando que psicopatas não são, necessariamente, assassinos. "Eles geralmente são médicos, lideres religiosos - daqueles que roubam o dinheiro dos fiéis sabe, políticos, advogados, o amigo que pega dinheiro emprestado e não devolve, aquele que bota a culpa em outros, especialistas em fazer você acreditar na mentira deles, esse tipo de pessoa vive praticamente duas vidas ou mais ao mesmo tempo e não conseguem dar um deslize para que outros saibam que aquilo o que ele diz é mentira. A psicopática geralmente vem agregada ao mentiroso compulsivo." (Fonte) O que fazer? É bem complicado, mas se a gente desconfiar dessas coisas deve-se fazer um encaminhamento a um psicólogo pra tentar descobrir se realmente trata-se disso, pra depois ter um acompanhamento psicológico desse individuo, ou sei lá, tomar alguma providência.
Pra terminar esse imenso post, gostaria de elogiar também os atores. Todos, desde a atriz que fez Eva (Tilda Swinton) até o Kevin em suas diferentes fazes. O filme é um trabalho primoroso de acertos em todos os aspectos e já se tornou um dos meus longas preferidos. Futuramente pretendo ler o livro também, aí quem sabe uma resenha role por aqui.