sábado, 27 de outubro de 2012

É proibido proibir!

Famoso discurso de Caetano em um festival televisivo de música popular brasileira em 1968. Vindo de um histórico onde pessoas saíram revoltados as ruas contra a guitarra elétrica, ainda não entende-se nada, em determinados sentidos, algumas coisas mudaram, outras permaneceram iguais. O discurso é o mesmo de ambos os lados, os velhos e bundões permanecem com o antigo, já outro lado tenta mostrar que o novo sempre vem.  Viva o novo!

"Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada. Hoje não tem Fernando Pessoa. Eu hoje vim dizer aqui, que quem teve coragem de assumir a estrutura de festival, não com o medo que o senhor Chico de Assis pediu, mas com a coragem, quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê‑la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém, foi Gilberto Gil e fui eu! Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabem a quem? São iguais sabem a quem? Tem som no microfone? Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores! Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada. E por falar nisso, viva Cacilda Becker! Viva Cacilda Becker! Eu tinha me comprometido a dar esse viva aqui, não tem nada a ver com vocês. O problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira. O Maranhão apresentou, este ano, uma música com arranjo de charleston. Sabem o que foi? Foi a Gabriela do ano passado, que ele não teve coragem de, no ano passado, apresentar por ser americana. Mas eu e Gil já abrimos o caminho. O que é que vocês querem? Eu vim aqui para acabar com isso! Eu quero dizer ao júri: me desclassifique. Eu não tenho nada a ver com isso. Nada a ver com isso. Gilberto Gil. Gilberto Gil está comigo, para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil. Acabar com tudo isso de uma vez. Nós só entramos no festival pra isso. Não é Gil? Não fingimos. Não fingimos aqui que desconhecemos o que seja festival, não. Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu? Eu só queria dizer isso, baby. Sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês? Se vocês forem… se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos! Me desclassifiquem junto com o Gil! junto com ele, tá entendendo? E quanto a vocês… O júri é muito simpático, mas é incompetente. Deus está solto! Fora do tom, sem melodia. Como é júri? Não acertaram? Qualificaram a melodia de Gilberto Gil? Ficaram por fora. Gil fundiu a cuca de vocês, hein? É assim que eu quero ver.Chega!"

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Clube da Luta - Chuck Palahniuk

Faz um tempo que vi Clube da Luta, o filme de David Fincher. Não negarei que, a primeira vista, achei um nada demais. Se bem que, naquele tempo, eu era extremamente inocente cinematograficamente. Verei novamente. Sei que minha opinião vai mudar bastante, levando em conta que Clube da Luta, o livro, é um espetáculo literário.

A obra é a anarquia em forma de literatura. Toda pessoa que tem interesse neste assunto deveria ler o livro. Não que ele vai explicar, didaticamente, o que é a anarquia, e sim nos oferecer um ponto de vista de um personagem revoltado com a sociedade, que cria duas organizações secretas: Clube da luta e Projeto Desordem e Destruição, para tentar transformar a sociedade em algo melhor. É aquele ideia do rastafári de destruir a Babilônia (estrutura social, o mundo em si, a sociedade) para construir tudo do começo.

O primeiro grupo, de mesmo nome do livro, o Clube da Luta, na verdade, soa mais como um um refúgio para homens depressivos, frustrados com a sua vida e irados com o com o atual modelo de sociedade, com a mídia e as suas propagandas mentirosas que fazem as pessoas acreditarem que suas vidas podem melhorar se comprar determinado produto. Isso já faz com que a maioria das pessoas se identifiquem, afinal, esse tipo de frustração é constante na maioria dos seres humanos modernos.

Já o segundo grupo, o Desordem e Destruição, esse sim dita todo o tom anárquico da obra. Esse grupo, dedica-se, excepcionalmente, a destruição da sociedade para um novo recomeço, através de ataques a grandes empresas comerciais e outros tipos de movimentos que visam, mesmo sendo  violentos, uma certa justiça social.

Em termos de narrativa, o livro não deixa a desejar. Cada Capítulo é como se fosse uma crônica não linear, misturada com as loucuras e pensamentos do personagem principal. A história é muito interessante e o final surpreendente, o mesmo do filme, que a maioria das pessoas conhecem. Sobre esse final surpreendente, e que a maioria devem saber do que eu estou falando, se assistiu o filme, posso dizer que pareceu bem mais claro a questão do personagem principal e de Tyler Durden, não sei se o fato de eu já saber o que iria acontecer influenciou nessa meu ponto, mas pareceu muito mais claro.

Enfim, se pegarem a nova edição do livro, vocês encontrarão um posfacio super interessante, escrito pelo próprio autor, sobre a repercussão do livro após o filme, que me deixou muito irritado com as pessoas que saem nas ruas com a camisa do Clube da luta. Não pelo fato da primeira regra do Clube da luta ser sobre não falar sobre o Clube da luta, pelo menos não literalmente, e sim pelo sentido filosófico dentro do contexto da história.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Dois curtas do Spike Jonze

Spike Jonze é, simplesmente, divino. Ás vezes, fico pensando o quanto é difícil ser original, se a cada vez mais, tudo está sendo feito. O Spike não é só original, como também, é um grande nome do cinema mundial. Desde seus clipes de bandas indies, até os longas Quero ser John Malkovich, Adaptação e Onde vivem os monstros, ele vem mostrando o seu enorme talento. 

Com seus roteiros melancólicos e, aparentemente, inocentes; personagens, psicologicamente, bem elaborados e a sua fotografia triste, as obras de Spike Jonze marcam por seu tom poético, politizado e filosófico. 

Os dois curtas a seguir são Estou aqui, uma obra que fala sobre sentimentos e diferenças dos seres humanos e Scenes from the suburbs, que em parceiria com a banda Arcade Fire, produziu uma extensão do clipe da música The Suburbs, do último álbum da banda. Em ambos os curtas, já ouvi diversos tipos de interpretações que fogem do sentimentalismo escrachado das duas obras. Spike Jonze não é só poesia, há muito mais, implicitamente, em tudo que ele faz.