domingo, 30 de dezembro de 2012

A Árvore da Vida (2011)


É uma imensa responsabilidade falar de A Árvore da Vida, mas, ao mesmo tempo, uma reflexão obrigatória para todos os que tiveram oportunidade de assisti-lo. O filme de 2011 de Terrence Malick divide opiniões.  Parece não existir meio termo, há os que acham um filme chato e metido a intelectual e os que o reconhecem como uma das grandes obras dos últimos tempos. Eu fico no segundo grupo. Não, eu não sou superior a ninguém por ter amado o longa, nem tampouco um metido a intelectual, se assim definem uns aos outros, alguns membros do time do ódio e do time do amor ao filme.

Cinema não é só entretenimento, acima de tudo é uma arte e é um grande engano ir ao cinema pra vê apenas o que gosta. Por exemplo, As vantagens de ser invisível é um tipo de coisa que eu gosto de ver, já Violência Gratuita é o contrario, mas não posso deixar de reconhecer que o segundo filme é melhor e mais importante do que o primeiro. É essencial se desprender do egoísmo do gosto para analisar bem uma obra artística.

As pessoas que não entenderam, em todos os sentidos, o filme (e é compreensível), em sua grande maioria, são pessoas providas de uma inocência cinematográfica ou de um vício hollywoodiano e até de uma visão crítica sobre esse tipo de estética. Mas o que mais incomoda nas críticas negativas é o argumento de que o filme não tem estória. Em primeiro lugar, cinema não precisa contar estorinhas com começo, meio e fim. Glauber Rocha, um dos diretores brasileiros mais reconhecidos mundo a fora, não concentrava os seus filmes diante uma narrativa clássica, e sim na sequência de imagens que montavam alegorias para sua crítica social. Em segundo lugar, apesar da abordagem filosófica, o filme conta sim e claramente uma estória. Na verdade, uma estória bem mais próxima do real do que a maioria dos filmes por aí.

O roteiro do filme começa em um futuro onde os pais da família central da estória recebem a notícia do falecimento de um dos filhos. A partir daí e depois de uma longa cena de sofrimento dos personagens, o filme divaga em imagens da natureza e do universo, depois vai ainda mais longe ao tempo cronológico e chega a outro filho em sua fase adulta ainda sofrendo com a morte do irmão. Depois o filme volta à infância dos filhos e a vida da família em conjunto, todos os seus problemas e felicidades.

A Árvore da Vida é um filme diferente para cada pessoa. Lembrou-me muito 2001, uma odisseia no espaço, do Kubrick, que em determinada entrevista sobre o filme de 68, questionado sobre a interpretação do longa, ele falou que o seu filme servia para abrir questões e não solucioná-las. Descrição esta que se encaixa muito bem para o filme em discussão.

Na minha visão, o longa se baseou no questionamento da nossa existência no mundo, sobre a teoria da criação do universo por Deus e da teoria do evolucionismo proposto por Darwin, do relacionamento entre os seres humanos, sobre os sentimentos de amor e ódio e o complexo que é ser um ser racional e não saber de quase nada sobre o que gente realmente é, se realmente somos alguma coisa.

Apesar das inúmeras críticas considerando o filme como um pró-criacionista, no meu entendimento, tendo a ideia de que a obra é única para cada individuo, o longa se mostrou muito mais aberto ao questionamento. Não posso deixar de dizer que o filme abala o ateísmo, mas não por mostrar uma verdade absoluta e sim por abrir questionamentos. Um ponto interessante é a relação do filho, personagem principal, com o seu pai, que metaforicamente pode representar o ser humano e a relação conflituosa com uma divindade. Além dessa situação temos ainda vários outras relações entre a família que representam metáforas existenciais muito interessantes.

Esse filme teve forte impacto na minha vida, falo filosoficamente, esteticamente e artisticamente. Me fez ficar madrugadas sem consegui dormir, pensando sobre o que é arte e sobre o que é vida. Mesmo assim, a obra, não fez eu me esclarecer nessa neblina que é o ser humano. Eu ainda continuo no escuro e sendo um humano ignorante, mas agora, talvez, mais questionador. Vale muito a pena ser assistido!



domingo, 9 de dezembro de 2012

Uma relevante discussão sobre o humor

Continuo não achando maldade nas piadas "preconceituosas", mas, hoje, enxergo um certo egoísmo vindo da minha parte. Convivi em meio a esquerda, me interessei pelo Feminismo e tantos outros grupos que defendem a minoria no Brasil, sou educado e tenho fácil acesso aos instrumentos de comunicação, sou muito bem informado. No meu meio poucos são os que se importam com os direitos das mulheres, dos gays e dos negros, por exemplo. Quando vejo uma piada preconceituosa, considero apenas uma piada. Mas isso sou eu.

Uma piada pode sim reforçar um preconceito e muitos "humoristas" podem ser preconceituosos. Quando não me importo com esse tipo de piada, falo apenas de mim, mas e o resto das pessoas? Muitas delas contam piadas sobre mulheres e negros pra reforçar seu argumento de superioridade. E isso acontece muito.
Mas também não podemos considerar a piada o principal inimigo da discurso de liberdade e igualdade. O principal inimigo está nos discursos sérios vindo de pais machistas, de lideres religiosos homofóbicos e de classe média "sofredora" desse país. Ah... e como a gente convive com essas pessoas! Encontramos na nossa família, na nossa televisão e em meio aos nossos amigos.

É comum, e desprezo esse brincadeira, de chamar os amigos de viado, quando algum deles fazem alguma coisa que vai de contra a normalidade do grupo. É comum também chamar de putas todas as garotas que se libertem sexualmente e isso é muito triste! Na real, as nossas escolhas como individuo para individuo, deveriam ser classificadas de acordo com a identificação, a partir dos discursos, das escolhas e do estilo de vida.

Você pode ser o que quiser, ver o que quiser, gostar do que quiser, você só não pode ser, e isso é paradóxico, uma coisa que impeça o outro de ser, ver e querer. É muito fácil para galera do orgulho Hétero, dos grupos de homens e para os brancos considerar as lutas e os militantes dessas causas como idiotas. Não são eles que sofrem pelo fato de serem apenas alguma coisa. E aos que acham que o preconceito já não existe, eis um grande engano: "Uma em cada cinco mulheres já sofreu violência de parte de um homem, em 80% dos casos o seu próprio parceiro. Em 2011, o ABC paulista teve um estupro (reportado!) por dia." (...) "A probabilidade de ser vítima de homicídio é 12 vezes maior para adolescentes homens e, dentro desse grupo, quatro vezes maior para jovens negros. De cada três jovens assassinados, dois são negros. A população negra teve 73% de vítimas de homicídio a mais do que a população branca." (...) " só nos primeiros dois meses de 2012, foram 80 assassinatos confirmados. Mantido esse padrão, teremos 500 homossexuais assassinados até o final de 2012. Nenhum país do mundo mata tantos homossexuais quanto o Brasil."

E para os que acham que esses dados são um monte de baboseira e que os homens, brancos e os héteros também sofrem com a violência (e realmente sofrem), é bom lembrar que os casos citados acima foram causados por preconceituosos sexuais, pela deficiência social e pelo machismo.

P.S. A contra-cultura sempre foi de contra os preconceitos, então você que é jovem, fique ligado, os movimentos culturais sempre foram e sempre serão politizados, sempre questionaram a "moral e os bons costumes". A arte, no geral, é um mistura de manifestação artística, corporal e social. Envolva-se na arte, completamente, outro mundo surgirá!

P.S. 2 Fica o vídeo para a discussão nos limites do humor. Escute ambos os lados, PENSE e tire suas conclusões.